Hoje é o dia das eleições 2008

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O TEXTO DE SHALAKO NÃO É SÓ A MOLDURA

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

A beleza na construção dos textos de Shalako tem chamado mais a atenção do que as denuncias, alertas e lições ali contidas. Não sei se isto vem a comprometer o propósito dos textos, porém, em alguns comentários os leitores têm se maravilhado mais com a construção do texto do que se indignado com a gravidade das denuncias. É como se a obra fosse a moldura e não a tela.
Eu saí de Pombal em dezembro 1978, só voltando á cidade para passar, no máximo, três dias, e, muitas das vezes, no mês de outubro.
A cidade, no entanto, vive incrustada dentro de mim e me segue por todas os lugares como o ar que respiro. É coisa de destino. Para se ter uma idéia da gravidade da situação, eu vim morar em João Pessoa e acabei conhecendo uma jovem que, soube mais tarde, já depois da desgraça aprontada pelo traiçoeiro coração, que era ela uma pombalense. Não havia mais nada a fazer a não ser seguir o cortejo e entrelaçar as nossas historias até que a morte nos separasse, como preconizou o Juiz de Paz e veio a acontecer 16 anos depois. É esta ligação que me faz arrepiar todos os pêlos do corpo ao tomar conhecimento dos acontecimentos políticos na minha cidade. A aldeia onde eu escrevi a minha historia bem que merecia sorte melhor.
Bem que nos texto de Shalako, na tela e não na moldura, não há nenhuma novidade. Tudo ali descrito já vem sendo contado desde 1696 quando a primeira carabina cuspiu fogo e atravessou o coração do primeiro Cariri; desde que a primeira índia foi estuprado por um jesuíta, desde o primeiro que grilhão foi entrelaçado no pescoço dos indefesos nativos. Nada é novidade. Por quê então estas historias ainda nos deixam indignados? A geração dos nossos avós não tinha a obrigação de acerta. A cidade do seu tempo fora construída sob a égide do coronelismo; da desinformação; da escassez de tudo; das dificuldades e da falta de uma educação democratizada.
A geração dos nossos pais até que poderia ter feito alguma coisa. Porém, veio a Ditadura Militar que fez com que eles, nossos pais, se preocupassem mais em saber que tipo de contravenção seus filhos estavam aprontando do que em construir sua própria história.
Já minha geração, esta sim, por ter sido forjada nas letras do Ato Institucional Numero 5; de dormir e ter pesadelos com o Gobery, não tinha nenhum direito de errar. Porém, cometemos os mesmo erros. Mais uma vez quem tem que pagar o preço dos nossos erros é a geração que Shalako representa.
Quando eu falo na minha geração, lembro que, em Pombal o primeiro a ter a oportunidade de corrigir os erros do passado e que não tinha nenhum direito de erra foi exatamente o Dr. Verissinho. Mas ele, em nome da minha geração, errou e eu peço a geração de Shalako mil desculpas. Não esperávamos tamanha decepção. Não tínhamos o direito de desaponta-los, pois, tivemos 330 anos de histórias contadas da onde deveríamos ter tirado as melhores experiências e corrigido o curso da história.
Verissinho, ao contrário, representa para Pombal o último suspiro do coronelismo que, acreditávamos, já havia sido morto e enterrado; representa o poder oligárquico e centralizado e a desídia generalizada. Ousaria dizer, representa a volta temporal da Família Real a cidade de Pombal, como se fora o final de um romance de Ariano Suassuna.
A geração de Shalako, que pode ser representada pela ascensão e prematuro desaparecimento do Jairo, foi a que mais se aproximou de um começo de prestação de contas. Na sua imaturidade, ainda haveria de passar muito tempo para que pudéssemos julgar a fase “Jariana” na administração de Pombal. O que hoje se escreve a seu respeito é reflexo da perda inesperada, da esperança interrompida. O xingamento que não podemos dizer de "Deus" dizemos dos seus algozes.
Não há como negar que a cidade de fato tomou novo rumo, apesar, repito, de erros velados ainda sendo cometidos como: o assistencialismo como correia principal e a negação ao patrimônio cultura e arquitetônico da cidade, etc... mas, entre todos que passaram por lá, foi o que demonstrou a intenção de corrigir a história da nossa cidade. Foram erros da inexperiência ou da vontade desenfreada de acertar.
Acredito que, para avivar a memória do nosso povo e para não calarmos sobre o corpo caído, os textos de Shalako e de outros Pombalenses que não calam para não consentir a sua morte, servirão para mudar, através da nossa reflexão, os rumos da cidade, trazendo-a de volta aos trilhos, não deixando que a historia se repita, pelo menos nas linhas escritas com sangue e ódio.
Para isto acontecer precisamos apreciar sim a beleza dos textos de Shalako, o que é bonito é para ser admirado, porém sem perder de vista a mensagem que o garoto quer passar.
Por Jerdivan Nóbrega de Araújo [foto]

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